Para cada três casamentos, um divórcio. Esta é a realidade do Brasil, de acordo com a última edição das Estatísticas do Registro Civil do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), com dados referentes a 2012. Naquele ano, enquanto os cartórios registraram 1.041.440 casamentos, a quantidade de divórcios chegou a 341,6 mil.
Além disso, o estudo mostrou que os casamentos duram cada vez menos: 15 anos — tempo contado da data da união formal até a data da sentença do divórcio. O período é menor que no passado: em 2007, por exemplo, o tempo médio era de 17 anos.
O que faz um casamento durar? A ciência busca esta resposta desde os anos 1970, de acordo com a Business Insider. Naquela época, nos Estados Unidos, casais estavam se divorciando a uma taxa alarmante, o que levou psicólogos a estudar os efeitos dessas separações nos filhos de casamentos desfeitos.
John Gottman foi um desses psicólogos. Nas últimas quatro décadas, ele tem estudado milhares de casais para descobrir o que faz um casamento durar. Em 1986, quando montou o Love Lab junto com o colega Robert Levenson, da Universidade de Washington. Tratava-se de um espaço onde recém-casados eram monitorados por meio de eletrodos responsáveis por fornecer dados fisiológicos dos participantes. Os pesquisadores pediam aos casais que conversassem sobre o relacionamento, e separaram os sujeitos em dois grupos, de acordo com as respostas fisiológicas obtidas nos testes:
- "Disasters": casais que aparentemente estavam tranquilos durante o diálogo, mas cujo corpo respondia de outra forma, com batimentos cardíacos elevados e glândulas sudoríparas (responsáveis pelo suor) em atividade constante.
- "Masters": casais que aparentavam tranquilidade e sem reações fisiológicas significativas.
Depois de seis anos, os pesquisadores visitaram suas "cobaias" e notaram que "masters" estavam vivendo felizes no casamento, enquanto "disasters" ou haviam passado pelo divórcio ou estavam em um casamento infeliz. As respostas fisiológicas mostravam que "disasters" reagiam ao diálogo com a mesma tensão de quem está diante de uma ameaça. Ao observar o comportamento de casais e as respostas fisiológicas, Gottman foi capaz de acertar 94% do futuro dos casais, fossem eles héteros ou gays, ricos ou pobres, com crianças ou não.
O que destrói o casamento — e o que o fortalece
Desapreço é o fator mais significativo na separação de casais. Pessoas que enfocam os defeitos do parceiro perdem 50% das coisas positivas que o companheiro faz, pois veem negatividade em tudo. Ignorar o parceiro também prejudica muito a convivência em um relacionamento. Este comportamento leva o outro a se sentir invisível e sem valor — além disso, diminui a imunidade e coloca a própria saúde em risco.
Os casamentos felizes são alicerçados na gentileza. Este é o mais importante fator na satisfação que se sente em um relacionamento. Existem muitas evidências que mostram: quanto mais gentis somos, mais geramos gentileza no mundo. É uma reação positiva em cadeia — inclusive no casamento.
Uma forma de demonstrar gentileza é ser generoso. Não necessariamente em questões materiais, mas com aquilo que não tem preço, como a atenção. Em 1990, quando Gottman queria aprofundar seus estudos em relacionamentos, ele convidou 130 recém-casados para um experimento: acompanhá-los por algum tempo em um espaço que simulava uma casa. Os casais faziam atividades comuns (cozinhavam, conversavam, ouviam música etc.) enquanto Gottman observava suas ações. Ele notou que os casais estão sempre "solicitam conexões" — por exemplo, quando a mulher observa, da janela de casa, um pôr do sol bonito e diz "Ei, amor, vem ver isso!" Esta é uma forma de "solicitar conexão", ao qual o marido, no caso, pode aceitar (por exemplo, levantar-se da poltrona e assistir ao pôr do sol com a mulher) ou não.
A forma como se responde a isso tem um papel importante no bem estar do casamento, constatou Gottman. Casais que se divorciaram um tempo depois do experimento haviam aceitado conexões 33% das vezes; casais que se mantinham juntos, 87%. Isso é um exemplo claro de ser generoso: dedicando um tempo a alguém.
Outro termômetro de um relacionamento feliz é a capacidade de compartilhar alegrias cotidianas. Em um estudo de 2006, a pesquisadora Shelly Gable e seus colegas trouxeram casais jovens para o laboratório, para que discutissem eventos positivos recentes de suas vidas. Eles descobriram que, de forma geral, os casais respondem às boas novas do outro (por exemplo, "Fui promovido no trabalho") de quatro formas:
- passivo-destrutivo: é quem ignora a notícia do parceiro, muitas vezes expondo um fato sobre si para silenciar o outro. Por exemplo: "E eu, que consegui perder 1 quilo!"
- ativo-destrutivo: diminui a relevância da boa notícia e, muitas vezes, impõe negatividade sobre o fato. Responde algo como "Mas não é mais responsabilidade? Será que você dá conta, com tanta coisa para fazer além do trabalho? Pode ser que esta promoção não tenha vindo em boa hora..."
- passivo-construtivo: reconhece a boa notícia, mas parece não se importar. Diz algo como "Que bom, querido", enquanto digita um SMS para a amiga.
- ativo-construtivo: é quem se dedica a ouvir a notícia e consegue compartilhar da felicidade do outro. Responde, por exemplo, "Que bom, amor! Fico muito feliz. Agora me conte como foi a conversa da promoção..."
A única forma de responder às boas novas de maneira saudável é a ativo-construtiva. O estudo mostrou que casais que mostravam interesse genuíno nas alegrias do outro tinham mais predisposição a ficarem juntos. Motivo: dividir alegrias aumenta a intimidade e a qualidade do relacionamento.